sábado, 22 de dezembro de 2007

Leopardos


"Ela tinha apenas 8 dias de vida quando a encontramos. Seus olhos ainda exibiam um tom cinzento leitoso e, ao mover-se, bamboleava insegura. Ao sair da toca para a luz do dia, parecia curiosa e aventureira, mal se dando conta dos alvoroçados esquilos. Sua mãe já perdera cinco outros filhotes nas garras de hienas, babuínos e outros predadores. Qual seria o destino desse?

Ao contrário do leão ou do guepardo, o leopardo é felino dissimulado e solitário. Como não depende de grupo familiar, tem de caçar sozinho, sobrevivendo graças à invisibilidade e à inteligência. Encontrar um leopardo é difícil. Quando vimos a mãe e a filha na densa mata de árvores de ébano e acácia em Mombo, no delta do rio Okavango, em Botsuana, decidimos acompanhar o filhote.

Desde os primeiros dias, Legadema, como a batizamos ("luz vinda do céu", na língua botsuana), viveu sob riscos. Babuínos e hienas rondavam a toca. Leões, uma ameaça para os filhotes, são bastante comuns nessa parte da Reserva de Caça de Moremi. Nada disso, porém, impediu Legadema de explorar a floresta por conta própria quando a mãe a deixou sozinha por alguns dias para caçar. Para onde quer que Legadema seguia, os atentos macacos-vervet a localizavam, a 1,5 quilômetro de distância, e os esquilos logo faziam soar o alarme. Com o tempo, tais incidentes apenas a ajudaram a aperfeiçoar sua capacidade de ocultação e disfarce.

A mãe ensinava a Legadema habilidades que lhe seriam úteis como predadora: de que maneira encurralar a presa e em que ponto do pescoço atacá-la com as presas para que sufoque. Apenas depois de dominar essas lições ela se transformaria no magnífico caçador em que um dia se tornam todos os leopardos."

Por: Dereck Joubert Fotos: Beverly Joubert
Matéria publicada na revista National Geographic Ed. 93 - 01/12/2007