sexta-feira, 28 de março de 2008

Floripa 282 anos

Praia de Coqueiros na parte continental da ilha.

No dia 23 de março passado, essa jovem senhora hospitaleira que abriga de manezinhos a imigrantes que vieram de várias partes do país e também de fora, completou 282 anos. Digo jovem senhora porque na visão dos escritores, bem como das lendas e imaginário popular, Floripa seria uma mulher deitada em meio ao oceano. Depois que o mundo descobriu suas belas paisagens, quarenta e duas praias de encher os olhos, não pára de chegar gente. O aeroporto Hercílio Luz é o terceiro mais movimentado do Brasil em vôos "charters", com mais de 2 mil operações por ano.
O visitante que chega de avião já avista a pequena ilha do Campeche que remonta o que já foi um dia do aviador Antoine de Saint-Exupéry que aterrissava na praia do Campeche no início dos anos 1930.


Mercado Público.

O centenário mercado público é "universal" e passagem obrigatória para quem quer experimentar tanto as ostras da Costeira e de Santo Antônio de lisboa quanto tainhas e ovas fritas fresquinhas. Tudo isso e muito mais encantam os visitantes e povoam sonhos de muitos a virem a morar nesse paraíso em busca de qualidade de vida.
O desafio agora é equilibrar essa beleza com a infra-estrutura necessária para que essa cidade não se torne caótica como as grandes cidades. É a capital que mais cresce no país e são 222 mil carros cadastrados, na grande maioria para uso individual. A ponte que liga a ilha ao continente fica congestionada em horários de pico, resultado da falta de planejamento das últimas décadas.

Mas a natureza dá seu grito e muita gente quer de volta aquela tranquilidade de tempos atrás.
Desenvolvimento (muito) sustentável e vida longa a essa ilha da moça faceira!

Fotos: Arquivo pessoal

quinta-feira, 27 de março de 2008

Água: o precioso recurso natural (não) renovável?

A Ong WWF faz um alerta no dia Internacional da Água nas cataratas do Iguaçu.

No dia 22 de março passado, comemoramos o Dia Internacional da Água. Parabéns, muita saúde e vida longa para esse líquido tão essencial que representa a própria vida!
Mas como estamos cuidando desse recurso natural? Será que a fonte pode secar? Em geografia estudamos que a água é um recurso natural renovável, pois pode ser reciclada mas a contaminação e vários outros fatores podem fazer diminuir drasticamente essa possibilidade. Assim como as matas, que são renováveis, mas é necessário tê-las sempre preservadas.

Desde que nascemos, assim como nossos pais, avós, tataravós, etc, a quantidade de água potável do planeta é a mesma. O crescimento da população mundial desafia o futuro: gerenciar os recursos hídricos de forma sustentável. Nosso atual modelo de desenvolvimento vêm provocando períodos cada vez mais longos de falta de chuvas, causando sérios problemas de abastecimento, produção de alimentos e conflitos políticos e sociais em algumas regiões do mundo.

Jato gigantesco de água faz chineses pararem para refletir?

De acordo com relatório das Nações Unidas, 1,1 bilhão de pessoas vivem sem água potável em condições apropriadas e 2,6 bilhões não têm acesso ao saneamento básico. Enchentes e secas matam mais que qualquer outro desastre natural e doenças ligadas a falta ou mau uso desse recurso causam a morte de milhares de crianças todos os dias.
Na Índia, por exemplo, somente 232 cidades das mais de 4.700 têm um sistema de escoamento de dejetos, que mais transborda que escoa: em Calcutá, cidade de 14 milhões de habitantes no sul do país, a rede é a mesma instalada pelos ingleses no século 19 - e para uso de 600 mil pessoas. O curioso é que foi neste mesmo país onde surgiu a primeira privada com descarga ligada a um sistema de esgoto e 4.500 anos mais tarde o país enfrenta o maior problema sanitário do mundo.

Agindo localmente, cada estado deve ter um Plano Estadual de Recursos Hídricos. O PERH aqui em Santa Catarina está sendo elaborado por meio de convênio com o Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA), no valor de 1 milhão e 250 mil reais. Fora isso estão sendo criadas usinas termelétricas no oeste e sul de Santa Catarina que farão o aproveitamento dos dejetos de aves e suínos para geração de energia, que segundo a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável vai proteger o grande aqüífero que abrange o estado: o Guarani. Aqui no blog já publiquei uma matéria bem abrangente sobre esse "tesouro". Veja
AQUI.

No blog da minha filha - o PITAQUINHOS DA FERNANDA, ela encontrou uma matéria onde a água numa garrafinha pode custar cerca de 80 reais. Achou caro? No futuro pode ser bem mais...

sexta-feira, 21 de março de 2008

Páscoa e Farra do Boi



Como todos os anos pelas bandas do litoral de Santa Catarina a Farra do Boi continua acontecendo (tradição trazida pelos descendentes de açorianos há 200 anos). Hoje esta prática está proibida, mas têm cidades onde a farra é um evento normal. Dentro de mangueirões ou nas próprias ruas da cidade e muitas vezes com total "apoio" de autoridades políticas, a lei é desrespeitada. Prova disso acontece em Governador Celso Ramos onde a população se "organiza" fechando suas casas com cercas improvisadas, alugando casas a um preço bem alto para possíveis "turistas" e as delegacias bem próximas fazem vista grossa para o movimento ao redor. Ninguém viu, ninguém sabe... só depois que encontram o animal ensanguentado e muitas vezes já morto de forma cruel, talvez apareça no noticiário. Uma prática inaceitável. Uma brutalidade que está bem longe do que deveria ser a comemoração da Páscoa. O significado desta grotesca tradição é desconhecido mas atribui-se uma conotação símbólica-religiosa da Paixão de Cristo, onde o boi faria o papel de "judas". Mas essa "tradição" fica mais perto mesmo de uma grande barbárie e é um pretexto para se fazer uma festa na comunidade e gerar capital financeiro com a venda de comes e bebes. E o pobre do boi é sacrificado? Que animal fez isso com ele?
Uma banda de Brusque chamada Etílicos & Sedentos lança uma música cuja letra retrata bem o que é essa tal "farra do boi": confira
AQUI.

"...Vejam quantos bois, correndo atrás de um boi..."

quarta-feira, 19 de março de 2008

Mudanças climáticas na contramão do mundo em desenvolvimento

Mulher e garoto transportam água potável em Dhaka, Bangladesh

O mundo desenvolvido diz que a tecnologia irá oferecer soluções para frear o aumento do aquecimento global e as empresas acreditam que será benéfico para os negócios. Unindo o útil ao agradável, claro!

A General Electric imediatamente reivindicou ser uma líder ambiental ao vender turbinas eólicas. O Wal-Mart está se tornando verde ao pedir aos seus fornecedores para que avaliem suas emissões enquanto produzem produtos Wal-Mart. Negociar as emissões de carbono certamente pode ser lucrativo: em um mês de péssimas notícias financeiras nos Estados Unidos, a Climate Exchange (bolsa do clima), que administra a Chicago Climate Exchange, viu um aumento de suas ações em mais de 20%.

Mas turbinas eólicas, carros híbridos e mercados de carbono são soluções feitas pelo mundo desenvolvido para o mundo desenvolvido. Elas ignoram um grande pedaço do quebra-cabeça da mudança climática: como melhor ajudar as pessoas no mundo em desenvolvimento que já estão sentindo os efeitos do aquecimento global.

"Há uma tendência de encontrar soluções por meio de intervenções tecnológicas e soluções de alto investimento, o que é complicado porque nem sempre funcionarão para os países pobres", disse Gonzalo Oviedo, autor de um poderoso relatório sobre o efeito da mudança climática sobre os pobres no mundo em desenvolvimento, divulgado nesta semana pela União Internacional para a Conservação da Natureza. "O que estamos dizendo é que em muitos países pobres há um alto grau de vulnerabilidade, que exige outros tipos de soluções."

O mundo está correndo para imaginar como reduzir as emissões com a ajuda de tecnologia. Ele tem feito muito menos para ajudar os pobres a se adaptarem. O relatório "Povos Indígenas e Tradicionais e a Mudança Climática" inclui o tipo de catálogo de sofrimento relacionado ao clima que já está ocorrendo entre os povos mais pobres do planeta.

No oeste da Nicarágua, a mudança climática deixou aldeias isolada de suprimentos cruciais, já que o rio que servia como via de abastecimento está baixo demais para ser navegado. "Suprimentos básicos como sal e água potável não mais conseguem chegar às aldeias", diz o relatório. "Além disso, o baixo volume de água significa que a poluição se torna concentrada e as pessoas ficam mais suscetíveis à cólera e tuberculose."

Entre os baka de Camarões, as chuvas ficaram menos regulares e difíceis de prever. "Mulheres que normalmente pegam peixes nas barragens construídas próximas de pequenos rios na estação seca freqüentemente não mais conseguem, à medida que os padrões de cheia dos rios mudam", diz o relatório.

Em Bangladesh, uma elevação do mar de 1,5 metro submergiria 22 mil quilômetros quadrados de terra e deslocaria 17 milhões de pessoas extremamente pobres, mais de 15% da população.
O relatório da União Internacional para a Conservação da Natureza aponta que os povos indígenas precisaram se adaptar às mudanças nos padrões climáticos por milhares de anos, de forma que sugere que os países ricos deveriam aprender com a experiência deles. (As turbinas eólicas evoluíram a partir dos modestos moinhos de vento.)

Durante anos de baixa precipitação, por exemplo, várias culturas no Norte da África restringiram severamente que gado pastasse. A relva deve ser cortada no campo e os animais alimentados fora do pasto para impedir o uso excessivo de recursos.

Igualmente, aldeias na América do Sul construíram canais subterrâneos de pedra para coleta de água, para que esta não evaporasse enquanto se movia de um lugar para outro.

Ou seja, práticas culturais sustentáveis do planeta estão sendo deixadas de lado pelo avanço cada vez maior do "desenvolvimento" e podem desaparecer antes mesmo de serem utilizadas e aprimoradas pelo conhecimento tecnológico.

Fonte pesquisada: Herald Tribune

segunda-feira, 10 de março de 2008

Sobre o Dia Internacional da Mulher

A história da comemoração do Dia Internacional da Mulher teve seu início a partir de uma greve de operárias de uma fábrica de Nova York. Em 08 de março de 1857 elas reivindicavam melhores condições de vida e de trabalho. A manifestação foi reprimida com total violência e as mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Aproximadamente 130 tecelãs morreram carbonizadas.
Em 1910, uma conferência realizada em Copenhague, na Dinamarca, estabelecia o dia 08 de Março como o marco da luta pelo reconhecimento dos direitos da cidadania feminina. Com o decorrer do tempo a data passou a ser comemorada em vários países do mundo e, em 1975, foi
finalmente oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o "Dia Internacional da Mulher".
Portanto é um dia muito importante e representa um marco na história de luta pela emancipação das mulheres. Mas há muito por lutar. As mulheres ainda ganham menos que os homens pela mesma função e ainda representam a minoria entre as lideranças. Em vários países do mundo mulheres são mutiladas e vivem em pleno terror.
Mas lamentavelmente quando ocupam algum lugar de destaque muitas vezes copiam o modelo masculino de liderar. Margareth Thatcher que o diga, era um verdadeiro 'cabra macho', a "Senhora da Guerra". Chegamos até aqui, mas não é o melhor, estamos em busca pela excelência.

Mulheres curdas protestando em defesa das minorias no Dia Internacional da Mulher.


Abaixo transcrevo um texto de um autor anônimo que encontrei na internet,
onde mostra a falta de equilíbrio de uma vida moderna.
O autor(a) diz querer voltar no tempo, ficar limitada(o) às tarefas domésticas e diz que isso seria bom!!! Não achei que foi uma mulher que escreveu. Nem a minha vó gostaria de retroceder. Falar para qualquer Ser Humano largar sua vida e abdicar de seus direitos é uma imensa afronta. Mas ambos os sexos podem
'trocar' as atividades no dia a dia sem perder a sua essência e com muito respeito e carinho.
Ninguém precisa deixar de casar porque têm que trabalhar, nem de fazer pratos culinários maravilhosos. Uma coisa não anula a outra.



Desabafo de uma mulher rebelde...


São 7h. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede.

Estou TÃO acabada, não queria ter que trabalhar hoje. Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando até. Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles, se tivesse cachorro, passeando pelas redondezas.

Aquário? Olhando os peixinhos nadarem. Espaço? Fazendo alongamento. Leite condensado? Brigadeiro. Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro para funcionar.

Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher, e por quê ela fez isso conosco, que nascemos depois dela. Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar, a trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando crianças, freqüentando saraus... A vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária. Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã, tampouco de espartilho, e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço". Que espaço, minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo ao seus pés. Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir, e se exibir para os amigos..., que raio de direitos requerer?

Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo da cruz. Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim. E nos lançando no calabouço da solteirice aguda.

Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard e, se duvidar, nem vôlei.

Por quê, me digam, por quê um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o "macharedo"? Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso. Tava na cara que isso não ia dar certo. Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir, que sapatos, acessórios, que perfume combina com o meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar engarrafada, correr risco de ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas. Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados, e especializações. Viramos supermulheres, continuamos a ganhar menos do que eles.

Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço? Chega! eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela - ai, meu Deus, 7h 30min, tenho que levantar!, - e tem mais, que chegue do trabalho, sente no sofá, coloque os pés para cima e diga: "meu bem, me traz uma dose de whisky, por favor?", descobri que nasci para servir. Vocês pensam que eu estou ironizando? Estou falando sério! Estou abdicando do meu posto de mulher moderna... Troco pelo de Amélia. Alguém se habilita?


Não, não! Um erro jamais justificaria outro!

sexta-feira, 7 de março de 2008

Momento especial de um urso polar

Ele é grande e o guardião do Ártico. E trata muito bem daquele lugar. Mas sua casa anda muito quente. O aquecimento global causa uma grande ameaça à vida desse animal magestoso, assim como à nós mesmos.
Abaixo uma série de bons momentos (e que momentos!) que nos fazem parar um pouquinho para refletir e lutar ainda mais pelo maravilhoso meio ambiente que temos:












Uma imagem vale por mil palavras, várias imagens como esta valem a sexta-feira, o fim de semana, o começo da semana, o mês, o resto do ano... a Vida inteira!

quinta-feira, 6 de março de 2008

"Muito obrigado Napoleão", dizem os brasileiros

Veleiro Cisne Branco refaz o trajeto do navio de dom João 6º pela Praia do Porto da Barra

Todos os brasileiros poderão confirmar: o seu país existe graças a... Napoleão. O Brasil moderno é a conseqüência feliz de um excesso de orgulho imperial. Ele nasceu como nação porque Bonaparte havia obrigado a família real portuguesa a fugir para o outro lado do oceano, rumo à sua imensa colônia. Cem dias mais tarde, a dinastia dos Bragança desembarcava no Rio. Este fato aconteceu dois séculos atrás, em 8 de março de 1808.

Em 1806, o Imperador francês, no auge do seu poder, decreta o bloqueio continental contra a Inglaterra. Intimada a interromper todo comércio com ela, a Europa cumpre a ordem. Apenas Portugal reluta, não se conforma em trair a Grã-Bretanha, sua antiga protetora. Ele ganha tempo, lança mão de um jogo duplo, finge que irá ceder, mas, por trás da cortina de fumaça, assina um acordo secreto com Londres. Napoleão perde a paciência diante deste pequeno país insolente e lhe lança um ultimato. Ele terá de obedecer, caso contrário perderá o seu trono e a sua frota.

Em Lisboa reina um príncipe regente, Dom João, futuro D. João 6º, o Clemente. A sua mãe era a rainha Maria 1ª, também chamada de "A Louca" por ter afundado na demência depois da morte do seu filho primogênito. Ela havia se recusado, por motivos religiosos, a vacinar este último contra a varíola. Dom João tem 40 anos. É um homem obeso, tímido, indeciso. Ainda assim, diante da imposição autoritária dos franceses, ele irá tomar a decisão certa: exilar-se além dos mares. O tempo está acabando, pois Napoleão deu ordem ao general Junot para invadir Portugal. Eis que o oficial avança rumo a Lisboa, à frente de um exército de cerca de 25.000 homens.

O êxodo rumo à América constitui um projeto antigo, que é relembrado toda vez que o reino enfrenta um grande perigo. Desta vez, ele precisa ser posto em prática às pressas. Os víveres são amontoados, os arquivos são coletados, as jóias da Coroa - obras de arte, lingotes de ouro, diamantes do Brasil - são recolhidas. O conteúdo de 700 charretes acaba sendo reunido nos porões de 36 navios prontos para zarpar. No meio da confusão da partida, os 60.000 volumes da Biblioteca real e toda a prataria das igrejas permanecerão esquecidos no cais do porto. Tomada por um lampejo de lucidez, a "rainha louca" grita para o cocheiro que a está conduzindo para o porto: "Não corram tanto! As pessoas vão pensar que estamos fugindo!"

Na manhã de 29 de novembro, a chuva parou de cair, o sol está brilhando, o vento começa a ficar mais forte. É dada a ordem para partir. A frota desloca-se lentamente pelo rio Tejo e vai se afastando sob a proteção de uma esquadra inglesa. Já não era sem tempo. A vanguarda do general Junot alcança as docas uma hora depois do último navio da frota real ter desatracado. Aliás, a empreitada do general vai dar com os burros n'água. Milhares de insurretos tomarão as armas contra os seus regimentos, que retornarão para a França em agosto de 1808. A respeito de Dom João, Napoleão escreverá: "Ele é o único homem que conseguiu me pregar uma peça".

A elite portuguesa inteira está fugindo entre céu e mar. Quantos estão nesta situação? Entre 5.000 e 15.000, segundo os historiadores. Nobres, oficiais, juízes, comerciante, bispos, médicos, pajens e camareiras acompanham a família real, da qual todos os membros estão presentes. O seu périplo é um pesadelo. Esses cortesões assustados e descontentes não serão poupados de nenhuma desgraça: as tempestades, as náuseas coletivas, o escorbuto, a falta de água. Uma invasão de piolhos obriga as mulheres a rasparem a cabeça.

Depois de uma travessia que durou 52 dias, Dom João desembarca em Salvador na Bahia. Pela primeira vez, um soberano da Europa pisa o solo da América. A festa dura uma semana, durante a qual milhares de súditos comparecem para beijar a mão do príncipe. Esta escala é uma jogada política. Dom João aproveita para reafirmar a sua autoridade sobre a população das províncias do Norte, em volta de uma cidade, Salvador, que foi a primeira capital do Brasil e se mostra nostálgica por ter perdido esta condição. Nela, o regente toma uma decisão crucial, a de abrir os portos para o comércio mundial. O fim do monopólio colonial é o preço a ser pago pelo seu apoio à Inglaterra, que dele será a principal beneficiária.

Cem dias depois de ter deixado Lisboa, a frota atraca na baía do Rio. No dia seguinte, a família real desembarca em meio a um ambiente de alegria. Ouvem-se estrondos de canhões, os sinos tocam seus carrilhões, muitos se borrifam com água benta, respirando os vapores de incenso. Predomina um contraste impressionante entre esta cidade "africana", povoada numa proporção de dois terços por negros e mestiços, entregue aos aventureiros e aos mercadores de escravos, e esses cortesões pálidos que trajam roupas pesadas, um pouco ridículos.

Três séculos depois da sua descoberta por Pedro Álvares Cabral, em 22 de abril de 1500, o Brasil continua sendo uma terra inexplorada. É um país de fronteiras imprecisas, desprovido de um verdadeiro poder central, que ainda não possui nem um comércio interno, nem uma moeda. Os seus 3 milhões de habitantes ainda não se consideram verdadeiramente como "brasileiros". A chegada do príncipe irá transformar a colônia numa metrópole. Por meio das suas iniciativas, o Rio cresce em tamanho, se embeleza e se refina. A cidade se abre para as mercadorias e as idéias.

Dom João implanta um Estado estável e organizado. Ele confere ao Brasil a sua unidade territorial, política, econômica e lingüística. No momento em que a América espanhola está sendo tomada por levantes, guerras e dilaceramentos, o Brasil emancipa-se suavemente da tutela portuguesa. Em 16 de dezembro de 1815, o regente proclama "o reino unido de Portugal, do Brasil e de Algarves", tornando a cidade do Rio de Janeiro com o mesmo status de Lisboa. Ele torna-se o rei João 6º. Um ano depois do seu retorno ao país natal, o seu filho Dom Pedro proclama a Independência (em 7 de setembro de 1822) e se torna o primeiro imperador do Brasil.

Hoje em dia, o Brasil está celebrando com orgulho o bicentenário da chegada de Dom João. Ele organiza exposições, emite selos e cunha moedas comemorativas. Por ocasião do mais recente carnaval, várias escolas de samba fizeram deste evento histórico o tema do seu desfile. Um dos refrões, que era entoado em coro pela multidão, concluía-se com um alegre: "Até logo, Napoleão!" Até logo e obrigado.

Crônica de Jean-Pierre Langellier
Fonte: Le Monde
Tradução: Jean-Yves de Neufville