terça-feira, 23 de outubro de 2007

Mulheres hollywoodianas na onda ecológica!

Everybody come to hollywood... (Madonna)

Com o sugestivo título: Washington sente o calor de Hollywood,
Alex Williams abre matéria publicada no jornal The New York Times ontem em Washington, sobre a nova "onda ecológica" vinda de Hollywood:

Em uma manhã de meados de outubro, quando fazia uma temperatura de 27°C, a senadora Barbara Boxer estava em uma sala de conferência sem janelas no seu escritório em Capitol Hill (o prédio do Congresso dos Estados Unidos) para ouvir um grupo de mulheres bem vestidas do sul da Califórnia, cujos cabelos louros marcados pelo sol e bronzeados atípicos para a estação ocultam uma missão bem menos ensolarada: pressionar o governo norte-americano para que este tome providências quanto ao aquecimento global.

Falta 'verde' na tradicional imagem de Hollywood...

"Nós representamos a indústria do entretenimento", afirmou Kelly Capman Meyer, cujo marido, Ron, é o presidente do Universal Studios Group. "Usamos os nossos recursos e as nossas conexões para lutar pelas questões ambientais".
"Queremos uma legislação climática que não morra", explicou Colleen Bell, filantropa e escritora cujo marido, Bradley, é o produtor executivo e o escritor da novela "The Bold and the Beaultiful".


As ativistas Gwen McCaw e Kelly Chapman Meyer em conversa com a senadora Boxer.

Meyer disse a Boxer, uma democrata que é uma das representantes do seu Estado no senado, que o clima mais quente intensificou os problemas relacionados às ondas próximas a sua casa em Malibu. "Sou surfista", diz ela. "A proliferação de algas na praia é uma coisa insana."
Boxer diz que está trabalhando pela aprovação de legislação climática no Senado, acrescentando que também está preocupada com o aquecimento global. "Podemos ver e sentir o aquecimento ocorrendo", disse ela. "A indústria da moda está bastante preocupada porque não é capaz de vender os seus suéteres de casimira."

Quando se é mulher de um figurão da indústria do cinema, pode-se fazer muito mais do que apenas reclamar sobre o clima incomum que está estragando o seu point favorito de surfe. Equipadas com uma aura de Hollywood e impecáveis conexões sociais -isso para não mencionar as listas de tópicos de discussão-, essas mulheres são capazes de contar com pelo menos 20 minutos de atenção respeitosa em Washington, com legisladores dispostos a escancarar as suas portas para ativistas que têm os mesmos sobrenomes de alguns doadores generosos.

E foi por isso que um grupo de mulheres ecológicas de personalidades importantes da indústria de entretenimento baixou em Washington na semana passada, esperando aproveitar um pouco do clima de euforia com o Prêmio Nobel da Paz de Al Gore em uma cidade que é capaz de ser extraordinariamente receptiva para com as celebridades de Hollywood, ainda que Washington tenha ficado emperrada neste ano no que diz respeito a legislações do meio-ambiente.

As cinco mulheres -integrantes do Conselho de Lideranças, que foi fundado sete anos atrás por Laurie David, que logo seria mulher de Larry David, e Elizabeth Wiatt, cujo marido, Jim, é o diretor-executivo da William Morris Agency- fizeram uma maratona de reuniões particulares com 11 senadores e deputados em 29 horas. Elas argumentaram que este outono assustadoramente quente deveria inspirar mais do que comentários de elevador em Capitol Hill.
"Essas pessoas têm sobre as suas mesas pilhas de papel deste tamanho", disse Meyer, referindo-se aos parlamentares e levando a palma da mão à altura dos olhos. "A questão é garantir que a nossa agenda chegue ao topo da lista."

Com as suas conexões e capacidade de arrecadar verbas, elas contam com uma chance melhor do que a do eleitor médio. Meyer, de expressão jovial e corpo atlético, é uma fã entusiasmada da esqui e cresceu no Estado do Colorado. Ela é uma das diretoras do Conselho de Lideranças (antigo Fórum da Ação), que tem 29 integrantes. Este é um grupo de estrelas do movimento verde que moram nas colinas endinheiradas do Condado de Los Angeles, de Beverly Hills e de Malibu.

Além de Meyer e Bell, faziam parte do grupo Dayna Kalins Bochco, presidente da Steven Bochco Productions (o marido dela, Steven, é um dos criadores de "NYPD Blue"), Gwen McCaw (o marido, John, é um bilionário do setor de telecomunicações) e Linda Stewart, que administra uma firma de marcas e propagandas chamada Cucoloris (Laurie David ficou em casa cuidando de outros problemas).

O glamour tem de fato o poder de abrir as portas em Washington, afirma T.R. Goldman, editor do jornal "Roll Call", que faz cobertura dos lobbies em Capitol Hill.
"Washington tem um pouco de complexo de insegurança quando se trata de lidar com Hollywood", afirma Goldman. "Quando se deparam com o poder de Hollywood, estas pessoas ouvem."

Mas alguns observadores desaprovam o fato de Hollywood tentar abrir caminho no Congresso. Kenneth P. Green, pesquisador do American Enterprise Institute, diz que essas mulheres "têm direito às suas opiniões, mas elas são essencialmente leigas". Segundo ele, Hollywood vive muito distante "da vida econômica das pessoas normais, que não têm motoristas particulares e não voam em jatinhos Learjet". "Será que a mídia daria alguma cobertura se um grupo de encanadores chegasse aqui na cidade?".

Começando com uma reunião às 9h, na quarta-feira, com o senador Sheldon Whitehouse, democrata pelo Estado de Rhode Island, as mulheres se reuniram com dez parlamentares democratas, incluindo o líder da maioria no senado, Harry Reid -e com uma republicana, a senadora pelo Estado de Maine, Susan Collins. Elas pediram a aprovação rápida de uma lei banindo a exportação de mercúrio para as nações em desenvolvimento e, a seguir, passaram para a grande questão, o aquecimento global, defendendo maior eficiência no uso de combustíveis em veículos e cláusulas mais rígidas nos projetos de lei relativos a fontes alternativas de energia que serão avaliados pelas duas casas parlamentares.

Na quarta-feira pela manhã, Meyer e McCaw, uma ex-modelo, discutiram como lidariam com o fato de serem jovens avós quando os filhos dos casamentos anteriores dos seus maridos tivessem os seus próprios filhos. "Você será uma avó legal e eu serei uma avó meio legal", brincou Meyer.

Uma hora mais tarde, elas se reuniram no edifício Hart, no Senado, com Michael Morgan, membro do gabinete do senador Benjamin Cardin, democrata pelo Estado de Maryland. Lá, as mulheres fizeram um apelo baseado em vários dados por uma legislação que impeça a exportação de mercúrio norte-americano para a Índia e a China. Morgan ouviu, com uma postura profissional, e depois prometeu ajudar a promover um projeto de lei neste sentido no Senado.
"Estamos ansiosos por fazer progressos em relação ao problema do aquecimento global", disse Morgan. "Este é o momento certo para isso".

Por volta de 13h, as mulheres almoçaram tartare de atum no Charlie Palmer Steak, um restaurante fino que fica próximo a Capitol Hill.
Elas reconheceram os estereótipos negativos associados às militantes verdes ricas de Hollywood, mas disseram que são capazes de conviver bem com isso.
Por exemplo, no ano passado, Bell abriu a casa em Holmby Hills na qual ela mora com o marido e os quatro filhos para uma sala de discussões ecológicas, da qual participaram John Cusack, Kelly Lynch e Kirsten Dunst.

Stewart lembra-se de ter estimulado Cameron Diaz a comprar um híbrido, atualmente o carro preferido de todas as mulheres do grupo.
"Eu embelezei o meu Prius", acrescentou Bochco. "Ele tem uma pintura de ondas nas laterais e listas e bordas cromadas que parecem safiras."

Meyer ajudou a criar uma casa de exposições feita de materiais obtidos com produção sustentável. O nome do espaço é Project7ten, situado no bairro de Venice, em Los Angeles, embora Meyers não more lá.
"Você tem que entender", disse Stewart. "Eles moram na casa mais bonita do mundo."
E elas estão bem conscientes do estereótipo da liberal do Learjet e disseram que este foi um dos motivos pelos quais viajaram em um vôo comercial para Washington.

McCaw, cujo marido já tinha um jato quanto eles se casaram em 1998, concorda que é uma questão difícil. "Se eles tivessem aviões que fossem movidos a energia solar, nós os usaríamos", disse ela. Até lá, McCaw diz que eles comprarão compram títulos de compensação por emissão de carbono.

Depois do almoço, foi a vez de Meyer seguir este padrão. Ela tinha que ir a Nova York para participar com Brooke Shields de um evento naquela noite para o combate ao câncer. Assim, ela trocou um almoço decente por pães, "com meio quilo de manteiga", brincou Meyer.
Andando rapidamente em direção ao táxi, ela deu um sorriso cansado e murmurou: "Não é fácil ser verde".

Assim fica fácil ser uma "ativista verde". Trocar o jato particular por um vôo comercial é realmente um grande "apoio" na luta contra o aquecimento global. Assim fica fácil de uma hora para outra tornar-se uma ativista ambiental... Mas as pessoas vão assistir os filmes desta poderosa indústria cinematográfica, e eles vão influenciar o comportamento das mesmas mundo afora. Que sejam influências boas!
Como observou T.R.Goldman:
O glamour tem de fato o poder de abrir as portas em Washington, afirma T.R. Goldman, editor do jornal "Roll Call", que faz cobertura dos lobbies em Capitol Hill.
"Washington tem um pouco de complexo de insegurança quando se trata de lidar com Hollywood", afirma Goldman. "Quando se deparam com o poder de Hollywood, estas pessoas ouvem."

Fonte: The New York Times .Tradução: UOL