quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Os Blogs e as publicações científicas.

Nosso Planeta Terra visto da Lua, num dia de alinhamento.
Dois milhões e quinhentos mil artigos científicos são publicados anualmente em 34 mil revistas científicas internacionais. Esse número, apesar de expressivo, não representa nem a metade do conhecimento científico gerado nas universidades e centros de pesquisa ao redor do mundo. Partindo-se do pressuposto que a rápida divulgação da informação é crucial para o avanço do conhecimento, é um contra-senso, num mundo com tantas possibilidades criadas pela internet, qualquer limitação ao acesso e discussão pública da ciência.

O sistema vigente para a avaliação de mérito dos artigos científicos a serem publicados foi implementado há 70 anos e merece ser rediscutido. Baseado na avaliação por pares, na qual revisores anônimos da área de pesquisa abordada pelo artigo discutem sua validade, é um processo laborioso e muitas vezes lento, no qual aproximadamente 70% dos artigos submetidos são rejeitados. Além disso, apesar de envolver a participação de avaliadores anônimos, não impede injustiças, duplicação de resultados já publicados ou até mesmo fraudes. Na busca por alternativas ao processo tradicional de avaliação e publicação de artigos relacionados às ciências da vida, editores de revistas científicas e 100 jovens pesquisadores convidados de todos os continentes reuniram-se no Fórum Mundial de Ciências da Saúde da Próxima Geração (BioVision.Nxt), realizado mês passado em Lyon, na França.


Das discussões, saíram algumas sugestões, como a disponibilização imediata de todos os artigos científicos submetidos em blogs especializados (que funcionariam como as atuais revistas científicas), nos quais ocorreria a avaliação pública e certificação de seu conteúdo por revisores especializados, além da inclusão de comentários e sugestões não anônimas por membros da comunidade científica. Com isso, 100% da produção científica mundial passaria a estar disponível online. Ao mesmo tempo, injustiças, duplicações de dados e fraudes seriam mais facilmente e rapidamente identificadas.

A qualidade e mérito de cada artigo poderiam ser mensurados tanto pelo tradicional número de citações obtidas quanto imediatamente, pelos comentários e apreciação dos artigos postados nos blogs. Uma versão menos audaciosa dessa proposta foi lançada recentemente pela Public Library of Science (PLoS), com o nome de PLoS One (
www.plosone.org).

Outra conclusão do Fórum foi que os cientistas precisam sair do armário. O pouco engajamento social e político de cientistas e a supervalorização de critérios como o índice de impacto das revistas especializadas na análise da qualidade, mérito e promoção dos pesquisadores seriam alguns dos fatores responsáveis pelo distanciamento entre comunidade científica e sociedade.

Num momento em que a religião novamente se contrapõe ao avanço científico, uma maior participação e engajamento de cientistas em aspectos sociais, políticos e educacionais da sociedade foram sugeridos. Além disso, para promover um aproveitamento mais eficiente da capacidade do cientista como agente de transformação social, a implementação de noções de administração, gestão (em ciência) e relações públicas poderiam ser integradas à grade curricular e formação do pesquisador.


O maior desafio, no entanto, será encontrar novos critérios para avaliar a qualidade do cientista do futuro. Além do impacto de suas publicações, formas de reconhecimento do mérito, baseadas por exemplo, no impacto social e tecnológico que os cientistas geram ao seu redor, deverão ter importância equivalente como critérios de promoção e reconhecimento.

Fonte: G1 - portal de notícias da globo, artigo de Stevens Reben

Stevens Rehen é presidente da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento (SBNeC) e pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ.