A cidade de Cárceres, 210Km da capital do Estado do Mato Grosso, Cuiabá, onde entre as atrações turísticas oferecidas está a pesca no rio Paraguai, teve um acontecimento extraordinário no dia 24 de junho deste ano. Duas onças pintadas atacaram um pescador enquanto ele dormia em sua barraca. As notícias dizem que o fato se deve ao aumento da população desse animal pelo fato do Ibama fiscalizar com mais rigor. Mas o inusitado acontecimento de duas onças atacarem juntas (muito raro) um ser humano podem indicar um alerta da falta de jacarés e capivaras, animais que naturalmente fazem parte da sua alimentação. É aquela velha história: o ser humano caça, invade o território e modifica a estrutura biológica de toda uma cadeia alimentar e um dia a "caça" se volta contra o caçador.
Foto de Nestor Fidélis, mostrando a praça Barão do Rio Branco em Cárceres
Majestosa Onça-Pintada
Tragédia na pescaria
Onças pintadas rasgam barraca e matam pescador no rio Paraguai; pai chegou a ver o ataque, mas não conseguiu enfrentar animais
CLARICE NAVARRO DIÓRIO
Da Sucursal de Cáceres
Duas onças pintadas - supostamente um casal - atacaram e mataram um homem na noite da última terça-feira na região do Pantanal de Cáceres. Os animais devoraram parte do corpo da vítima, que estava no local acampado para pescar.
Luiz Alex da Silva Lara, de 22 anos, pescava com o pai, Alonso Silva Lara, de 54. O ataque aconteceu por volta das 19 horas, quando o rapaz dormia na barraca e o pai estava um pouco afastado, tentando encontrar iscas.
O acampamento estava montado a 230 quilômetros do centro da cidade, numa localidade conhecida como Pacu Gordo, que fica próximo à reserva ecológica do Taiamã.
Os animais rasgaram a lona da barraca e puxaram a vítima pela cabeça, arrastando o corpo por cerca de 50 metros. O pai chegou a tempo de ver o filho sendo arrastado, mas não conseguiu fazer nada.
Ontem pela manhã, ele contou que estava sem qualquer tipo de arma de fogo, carregando apenas um facão, e que quando tentava se aproximar, os animais ameaçavam atacá-lo também. Seus gritos de desespero atraíram outros pescadores que estavam acampados na região, e juntos conseguiram fazer os animais largar o corpo, mas o rapaz já estava morto.
As onças dilaceraram o corpo do pescador. Comeram suas bochechas e nuca. A cabeça ficou totalmente dilacerada, mas o corpo também apresentava marcas das garras, principalmente nas pernas e costas. Os animais ainda morderam sua nuca e as bochechas.
O pai contou que não consegue esquecer a cena e não para de lamentar por não ter conseguido salvar o filho. Fica repetindo que se fosse um único animal, talvez ele tivesse conseguido lutar.
Ele relatou que esse não foi o único ataque de onças naquela região e que outros pescadores já foram atacados. Segundo Alonso, os animais estão famintos porque não há mais comida farta na região, como jacarés e capivaras, enquanto a população de onças está crescendo.
A reportagem tentou contato com o Ibama para obter mais informações sobre o número estimado de onças na região do pantanal mas não conseguiu. O pescador diz que o número de ataques vem crescendo nos últimos três anos.
A família não autorizou imagens do corpo da vítima, cuja necropsia foi feita na manhã de ontem no Instituto Médico Legal de Cáceres. O corpo foi resgatado do local do ataque pelos próprios pescadores e transportado, com autorização policial, pelo barco de turismo Babilônia.
Da reserva, ele foi levado para a sede da fazenda Jatobá, e de lá, transportado para o IML por um veículo do Ibama, utilizado na fiscalização da reserva ecológica.
O corpo foi liberado na tarde de ontem e velado no Jardim Vila Nova, sendo sepultado no final da tarde.
Fonte: RPPN RIO DAS LONTRAS
Diário de Cuiabá